Entre sem bater. 

sábado, 25 de julho de 2020

Paralelas

Acordei com um fio de cabelo seu grudado no meu rosto.
Acordei com cabelos por toda a minha casa.
Minha casa está cheia de cabelo, pelo, amor, sorriso e alegria.
Acordei com o seu sorriso gravado no meu. Com seus olhos lindos, grandes e amorosos colados no meu coração.

No corcovado, quem abre os braços sou eu.


domingo, 8 de dezembro de 2019

Sobre as ondas do mar

O chiado da água na areia. Praia. A onda chia muito alto, é o único som tarde da noite. O tempo é quente, a cama macia, o céu é praia, juntos no infinito.

De repente, mais um som. Como se também batesse na terra com a mesma força que a onda lá embaixo, aqui ouço minha respiração. Com a mesma força, o mesmo ritmo, o mesmo grito.

Preciso me acostumar... Todo dia a onda bate e faz barulho, todo dia, o tempo todo... Ele (o chiado) também é belo, acalma, amansa, abraça. A natureza te convida pra respirar e se acalmar com ela. Chiando, chiando, chiando... Vou ficar por aqui.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Imperativo categórico.

Quando eu era pequenino minha avó queria que eu fizesse catequese. Minha mãe perguntou a uma criança se ela queria ficar alguns dias de sua vida sentado ouvindo padres falando. E o que eu disse virou decisão, ele não quer, ele não vai.

Passou um tempo, eu queria aprender teclado. Mas eu não gostei do local, então não aprendi.
Ai eu pedi pra entrar num curso de computação/office. Um dia uma mulher teve um ataque epiléptico do meu lado no curso. Pedi pra sair. Minha mãe tirou.

Não fiz mais nada, só futebol quando eu pedi. Ai chegou o Ensino Médio e quis acompanhar um amigo no técnico a tarde e fazer computação a noite. Pois então fazia. Quis fazer cursinho e fiz. Quis trabalhar e fui, apesar dos meus pais serem contra. "Trabalhar agora por quê?" Quis largar o emprego e só me apoiaram.

Bom, passou um tempo... Ai não quis sair mais de casa, mas como nunca teve ninguém pra me mandar fazer ou parar de fazer algo, ninguém sabia como me fazer melhorar. Tive que esperar acontecer, sabia que seria assim, não faria diferença meus pais falando "Vai André, vai pra aula". Todas às vezes que eu quis faltar em tudo na vida, eu os avisava, minha mãe perguntava se faria alguma diferença, eu dizia que sim mas faltava mesmo assim. Então por que seria diferente agora?

Ai eu voltei a ir pra aula,  receoso, com a preguiça que ficou comum nos últimos tempos. Durante a faculdade tive amigos que tentaram me mandar fazer mais. Eu sabia que era positivo o que eles diziam, mas preferi me afastar, não me afastei só por isso, não queria mais acordar cedo também, mas não gosto de expectativas em cima de mim, tinha me cansado da imagem do "que vai ganhar dinheiro", "inteligente".

Como dizia, então voltei pra aula. Mas agora tinha alguém me mandando estudar mais, mandando emagrecer, mandando gastar menos, mandando não faltar. Mandando. E mandando muito, veja que audácia. Eu então fui claro com ela: meus problemas são meus problemas, você não tem nada a ver com isso. E o que ela fez? Ela continuou mandando, mandando, mandando... E conseguiu me fazer olhar pra mim e me reconhecer depois de anos de escuridão, depois de anos tentando fugir de qualquer objetivo, qualquer responsabilidade (deve ser até por isso que larguei meu emprego). Ela e a sua mania de cuidar de mim me fez gostar de mim de novo. Quero que você continue cuidando de mim por muito tempo. Mandando muito, e que lá na frente você mande eu comprar uma apartamento pra nós. Você manda no meu coração desde a primeira água de coco. 

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Seu reflexo.

Na minha cultura, é normal casais irem garimpar juntos, então partimos para a mina, eu e ela, apesar de acabarmos de nos conhecer.
Entramos numa mina desconhecida, escura, acho que fomos os primeiros. Não andamos muito e encontramos uma pedra, uma rocha gigante, do nosso tamanho, do meu tamanho. Com uma cor diferente, esverdeada, estávamos certos do que era aquilo, um diamante. Enorme. Ela estava bem presa no restante da caverna, teríamos que praticamente lapidá-la por inteira para tirá-la dali.
Pois então começamos, e logo de início já era possível perceber, então comentei:

- Como brilha. - ela então:
- Mas ainda nem chegamos no diamante, isso aqui é só a rocha... Ela é diferente, consigo me ver um pouco nela.
- Mas brilha... Muito...
- Não enxergo...

E eu via aquele brilho refletir cada vez mais, mas brilhava muito intensamente desde o começo. Toda a caverna estava brilhando.

O seu brilho faz toda a minha caverna brilhar, pequenina.
Agora é só continuarmos lapidando, juntos.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Viver de luz

  Então eu respirei. Bem fundo. Para inspirar foi necessário coragem, já que não o fazia assim há muito tempo. Para expirar, uma mistura. Dor, angústia e alívio. Talvez seja só a gripe tornando tudo mais dramático, ainda assim foi só agora que respirei.
  Minhas raízes estão apodrecidas, só não morri porque estão cuidando do jardim. É demorado e difícil criar novas raízes, meus jardineiros e jardineiras são tão amáveis que muitas vezes esqueço que eles podem ir embora, ou talvez a vida não precise continuar sem ter quem regue-a. O xilema me manda fazer raízes, o floema manda me preocupar apenas com as flores.